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Mudanca nos niveis hormonais, o chamado "efeito sanfona".

Leptina-Grelina pode ser marcador biológico para ajuste de peso.
Descoberta indica novas estratégias para combater o obesidade.

Quando decide perder peso, a designer de interiores Regina Nunes, 45, é rápida: emagrece quatro quilos em duas semanas. Mas, em sete dias, recupera tudo. "Se me estresso com alguma coisa no trabalho ou na vida pessoal, já me vejo comendo o que não devo."

A servidora pública Camila de Abreu, 31, sofre desse mal desde a adolescência. "Antes do meu casamento, tinha emagrecido dez quilos. Na lua de mel, uma semana depois, recuperei seis."

No guarda-roupa, suas calças vão do tamanho 40 ao 48. O marido, que tem o mesmo problema, tem calças do número 40 ao 52.

Todos eles são vítimas do chamado efeito "sanfona".

Agora, um estudo das universidades de Navarra e Santiago de Compostela, Espanha, aponta a existência de um marcador biológico que pode explicar esse vaivém.

Uma alteração nos níveis dos hormônios que controlam a fome e a saciedade explicaria o problema.

Os pesquisadores recrutaram 104 pessoas obesas ou com sobrepeso e as submeteram a uma dieta de baixa caloria durante oito semanas.

Após esse período, elas deviam manter hábitos saudáveis por outras 24 semanas, por conta própria.

Ao fim do acompanhamento, os pesquisadores descobriram que 49 das 104 pessoas recuperaram ao menos 10% do peso perdido durante a dieta.

Entre os que engordaram, os níveis do hormônio leptina eram maiores e os do hormônio grelina eram menores, comparados às taxas dos que mantiveram o peso.

A conclusão é que essas concentrações podem determinar quais pessoas têm tendência a voltar ao peso original depois de uma dieta.

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A grelina estimula o apetite. Ela é produzida no estômago e no intestino e sinaliza, no cérebro, a vontade de comer. Sua concentração no sangue varia durante o dia.

Antes das refeições, ela atinge picos, criando a sensação de fome. Depois, ela cai, contribuindo para a sensação de saciedade.

Já a leptina é produzida nas células de gordura e em quantidades proporcionais à massa do indivíduo. Quanto maior a quantidade de gordura estocada, maior a sua concentração.

Segundo Alfredo Halpern, chefe do grupo de obesidade do Hospital das Clínicas, os resultados encontrados pelo grupo espanhol sugerem uma estratégia mais individualizada para combater o problema.

"Poderíamos dar mais atenção a quem tem essas especificações e providenciar mais cuidados, encontrando, por exemplo, quem é mais candidato a uma cirurgia", afirma.

Ricardo Meirelles, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, diz que a pesquisa explica um dos mecanismos que mais dificultam o tratamento da obesidade.

"Os fatores que levam a essa recuperação do peso não são claros. O estudo mostrou um deles. Se o resultado for confirmado, poderemos aumentar o alerta sobre certas pessoas."

Ele afirma, porém, que mais pesquisas são necessárias. "A obesidade é muito frequente, a amostragem deveria ser maior", diz.

Por GUILHERME GENESTRETI e MARIANA VERSOLATO
Fonte: Folha.com 

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