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Correr uma maratona pode lesionar o coração, indica estudo

Aumento no número de adeptos da modalidade é uma das razões.
Tempo curto de adaptação do coração e a falta de exames agrava a situação.

Um estudo apresentado no Congresso Canadense de Cardiologia deixou um alerta claro à comunidade médica e aos praticantes de esportes de endurance: correr uma maratona pode lesionar o coração. Embora não seja exatamente uma novidade, a súbita repercussão do assunto se deve, entre outras razões, ao expressivo crescimento no número de adeptos da modalidade em todo o mundo. Mas, afinal, até que ponto participar de uma maratona ou de uma competição de triátlon, por exemplo, pode ser considerado saudável e seguro?

“Correr uma maratona não é como visitar um shopping ou fazer compras. Esse tipo de prova gera um desgaste fisiológico grande e é preciso estar preparado. Acontece que muitas pessoas estão subestimando os próprios limites”, alerta Nabil Ghorayeb, cardiologista e presidente do Departamento de Cardiologia do Esporte da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Segundo o especialista, a falta de orientação dos atletas, sejam eles amadores ou profissionais, tem sido um dos principais agravantes em termos de saúde cardiovascular.

Segundo o último relatório global divulgado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), atualmente, as doenças cardiovasculares são a principal causa de morte no mundo. Por essa razão, a Sociedade Brasileira de Cardiologia reforça em suas diretrizes a necessidade do exame cardiológico de ‘pré-participação do atleta’, capaz de detectar possíveis anormalidades cardíacas, silenciosas ou não, que podem levar ao afastamento temporário ou definitivo do esporte.

Esse tipo de avaliação, que deveria ser praxe, pode contribuir expressivamente para a diminuição dos casos de morte súbita durante a prática esportiva. “É seguro dizer que 95% das complicações cardíacas que levam à morte súbita são detectáveis por essa avaliação, quando realizada de maneira séria e criteriosa e não para atender às exigências burocráticas. São raras as condições cardiológicas impeditivas para a prática de atividade física”, afirma Ghorayeb.

A pesquisa mencionada no Congresso foi realizada na Universidade de Laval, Canadá, e levou em consideração as avaliações de 20 corredores amadores saudáveis antes e após uma prova. Submetidos a testes de esforço, exames de sangue e ressonância magnética 48 horas depois de encararem uma maratona, os participantes apresentaram alterações na oxigenação do coração e no bombeamento sanguíneo, microlesões e até inchaço no órgão. Após três meses, uma nova bateria de exames foi realizada e essas alterações haviam desaparecido.

“Toda atividade física exige uma adaptação do coração”, diz Ghorayeb, ressaltando que a prevalência de arritmias cardíacas benignas em corredores, por exemplo, tem sido objeto de estudo de vários pesquisadores. Embora se figurem em perturbações na frequência ou no ritmo dos batimentos do coração, as arritmias benignas não representam um risco isolado de morte. “Elas se caracterizam por aparecerem com a intensidade de treinamento e atenuarem quando ele é encerrado”, diz o cardiologista.

Em consenso, os especialistas afirmam que o maior problema é a imprecisão acerca das sequelas que uma agressão fisiológica no coração pode deixar. Por esse motivo, a recomendação médica é que se corra, no máximo, duas maratonas por ano. “Nossa intenção é incentivar o esporte em todos os sentidos, para todas as idades, mas sempre ressaltando a importância da orientação na prevenção de riscos.” Para quem gosta de participar de maratonas a dica é: continue, mas tenha em mente, com muita clareza, os seus próprios limites. “Esporte não mata. O que mata são doenças prévias não tratadas convenientementes ou que são desconhecidas pelo atleta”.

Pontos de atenção

Fazer exames prévios com especialistas, treinar com pelo menos três meses de antecedência e ter hábitos alimentares prescritos por um nutricionista são requisitos básicos para quem quer participar de uma prova, sobretudo as de longa duração, sem comprometer a própria saúde. “A palavra apto não indica a condição biológica do indivíduo. Indica apenas uma condição técnica”.

Mesmo tendo cumprido todas as recomendações acima, é preciso estar atento. Todo e qualquer sintoma que aparece durante uma atividade física tem que ser valorizado, tais como falta de ar, tontura, palpitações, dores no tórax, desidratação aguda, alta sudorese ou fraqueza. “Do ponto de vista cardiovascular, esses sintomas obrigam a pessoa a interromper a prova e procurar ajuda médica especializada. O normal é não sentir nada.”

Em tempo, Irineu Loturco Filho, consultor técnico da área esportiva do Grupo Pão de Açúcar e diretor técnico da S2 Esportes, nos lembra que, do ponto de vista científico, a atividade física moderada aliada a uma dieta equilibrada continua sendo “a melhor maneira de prevenir e tratar os mais diversos tipos de doenças crônicas”. A dica aqui é incentivar a prática esportiva em todos os sentidos, para todas as idades, mas sempre com orientação técnica para evitar os riscos.

Por Carolina Beu 

Fonte: Uol.com.br

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